Fui um deprimido a vida toda. Deve ser genético. Mal de família. Me lembro de um fato interessante quando criança, por volta dos cinco anos, mas não tenho certeza exatamente com que idade aconteceu. Nos primeiros anos de vida, até os cinco anos, morei em São Paulo, num sobrado localizado no bairro de Pinheiros. Certa vez estava subindo a escada, meu pai subindo à frente, eu disse a ele que estava com “guá”. Ele perguntou espantado o que estava falando. Só disse que era “guá”. Anos mais tarde, nos períodos mais deprimidos da minha adolescência, foi que me lembrei deste momento, pois me ocorreu exatamente o mesmo estado de espírito, o que me remeteu diretamente àquele momento da minha infância.
O pior momento que passei deprimido foi em São Paulo, no período em que fiz mestrado, a solidão simplesmente me dilacerou. Longe da namorada, da família, com poucos amigos, ou quase nenhum. Me afundava no sofá, paralisado, bebendo café como um louco, em meio a livros e discos e conexão discada da internet, sem saber onde procurar ajuda. Basicamente, a memória daqueles quatro anos que passei em São Paulo fora perdida, apenas me lembro das coisas mais pontuais, mas no geral prefiro esquecer.
Anos mais tarde, depois que comecei a dar aulas, percebi que o problema não se resolvia. Não sei se há um perfil ou um diagnóstico preciso do comportamento de um deprimido. Em outubro de 2009 comecei a tomar remédios. No início era ótimo, me sentia muito bem e passei a beber mais que o normal do que costumava. Mas depois que ficava bem parava de tomar os remédios e depois tinha que novamente retomar a rotina de remédios que até hoje me enche o saco. Não me sinto mais como no início do “tratamento”. Apesar das origens bioquímicas da depressão considerar apenas este fator não resolve a questão.
A depressão é a dor de quem sente a dor do mundo e não encontra refúgio na religião ou nas drogas, consola-se, em casos bem particulares, com as artes e a filosofia. Não vivemos uma epidemia de depressão. Desde sempre ela está por aí. Alguns sucumbem, outros vivem como é possível.
Como não conheço nenhuma das bandas que vc resenha por aqui... (óbvio) o lance é comentar nos posts mais pessoais. Mas leio todos!
ResponderExcluirQue texto bonito, o último parágrafo é uma bela descrição de um problema tão escroto. Sincero e "sem querer passar uma lição" como a maioria das coisas que se lê por aí.
beeijos,
Laís