quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre depressão...


Fui um deprimido a vida toda. Deve ser genético. Mal de família. Me lembro de um fato interessante quando criança, por volta dos cinco anos, mas não tenho certeza exatamente com que idade aconteceu. Nos primeiros anos de vida, até os cinco anos, morei em São Paulo, num sobrado localizado no bairro de Pinheiros. Certa vez estava subindo a escada, meu pai subindo à frente, eu disse a ele que estava com “guá”. Ele perguntou espantado o que estava falando. Só disse que era “guá”. Anos mais tarde, nos períodos mais deprimidos da minha adolescência, foi que me lembrei deste momento, pois me ocorreu exatamente o mesmo estado de espírito, o que me remeteu diretamente àquele momento da minha infância.
            O pior momento que passei deprimido foi em São Paulo, no período em que fiz mestrado, a solidão simplesmente me dilacerou. Longe da namorada, da família, com poucos amigos, ou quase nenhum. Me afundava no sofá, paralisado, bebendo café como um louco, em meio a livros e discos e conexão discada da internet, sem saber onde procurar ajuda. Basicamente, a memória daqueles quatro anos que passei em São Paulo fora perdida, apenas me lembro das coisas mais pontuais, mas no geral prefiro esquecer.
            Anos mais tarde, depois que comecei a dar aulas, percebi que o problema não se resolvia. Não sei se há um perfil ou um diagnóstico preciso do comportamento de um deprimido. Em outubro de 2009 comecei a tomar remédios. No início era ótimo, me sentia muito bem e passei a beber mais que o normal do que costumava. Mas depois que ficava bem parava de tomar os remédios e depois tinha que novamente retomar a rotina de remédios que até hoje me enche o saco. Não me sinto mais como no início do “tratamento”. Apesar das origens bioquímicas da depressão considerar apenas este fator não resolve a questão.
            A depressão é a dor de quem sente a dor do mundo e não encontra refúgio na religião ou nas drogas, consola-se, em casos bem particulares, com as artes e a filosofia. Não vivemos uma epidemia de depressão. Desde sempre ela está por aí. Alguns sucumbem, outros vivem como é possível.

Bologna Violenta - Weirdo - Kendo : Três petardos do breakcore


Bologna Violenta – Take no Prisoners

            O oitavo lançamento do selo tailandês Sociopath dá uma primeira amostra a que veio, seu propósito, sua visão de música para pistas de dança, cujo projeto de engenharia muitas vezes é engendrado no interior de quartos adolescentes de classe média. O álbum é composto de 10 peças, que funcionam mais como vinhetas, todas de vinte e seis segundos. As peças são um amontoado de riffs de guitarra thrash ultra-saturados com uma base de beats quebrados e agressivos. Portanto, o elemento concreto é proeminente e pouco se percebe o uso de síntese, que às vezes dá as caras em silvos reverberados aproximando muito de osciladores simples. Breve, curto e violento.
 
Weirdo – maDnBrain

O título é um tanto elucidativo. Loucura. Drum and Bass. Cérebro. Que em inglês sugere um Drum and Bass para enlouquecer o cérebro. Acho que essa é a proposta e o que define o chamado breakcore. Beats quebrados enlouquecidos sob construções, tanto sintéticas quanto concretas, escuras. Graves retumbantes malévolos é o que nos apresenta “Evil Lurks” em meio à quebradeira aparentemente desconexa. Mas é notória a ironia, o cinismo, o sarcasmo do breakcore, um subproduto ao mesmo tempo engenhos, mas construído a partir de materiais simples. O que ouvimos, mais ou menos, é um amontoado de colagens de ruídos e batidas ensandecidas. A parte sintética na maioria das vezes dá lugar à urgência de sirenes convocando ao pânico e ao desespero como evidencia “killa”. É pra dançar? Depende. Para b-boys não serve. Como mexer o corpo com esse tipo de sonoridade, afinal, por mais que o cérebro esteja enlouquecido, é em comunhão com o corpo que dá sentido à dança, e é por aí mesmo, do cérebro ao corpo perpassa uma corrente elétrica como uma trilha sonora divertidíssima para uma sessão de tortura. Apenas a junção das break beats com o hardcore não é suficiente para explicar o break core. O hardcore aqui abrange mais referenciais sonoros que apenas aqueles do eletrônico. Sim, há uma presença forte do espírito hardcore punk estadunidense do início da década de 80. Apesar das 5 faixas do álbum, nesse amontoado de detritos pouco se percebe variações gritantes entre uma faixa e outra. O material sonoro utilizado nas faixas – ruídosmaissamplersmaisdistorção – tem uma fonte comum.  Dito isto Weirdo tem uma cara? Tem uma sonoridade que o distingue? Não. E este é exatamente o ponto. Não há em “maDnBrain” uma assinatura identificável, é apenas um esporro para pistas de danças alojadas em ambientes insalubres festejados por todo tipo de nerds frustrados gordos rancorosos e pobres.
 
KENDO – Living in Leeds

A primeira faixa “Jedi Master” funciona como uma introdução, as batidas tem o volume por vezes diminuído ou então, quando mais proeminentes, desaceleradas, combinadas com uma gororoba aveludada pontilhada por sons do tipo 8bit. A partir daí o álbum logo dá lugar à desgraceira chiadeira. É o que podemos observar em “Conversational Dictocrat”. Estamos em território sonoro abrasivo e cáustico em plena conformidade com breaks bastante distintos e distorcidos. O álbum não dá tréguas – “Fucking Hardcore” – como bem demonstra o responsável.  O intermezzo meditativo experimental pseudovanguardista se dá na quarta faixa “Distraught & Frightened”. “Magical Mystery Tour Part 1” também é bem chapada, com timbres um pouco mais limpos, mas sem beats. “Flying Around The Rays of The Sun” começa com aquela sonoridade chapadinha cheio de synths iluminadinhos que lá pelas tantas cede às batidas desencontradas. Nem tudo aqui é pronto para pistas transpirantes de machos rejeitados, um pouco do que ouvimos aqui rende bons momentos em fones de ouvido ou caixinhas de qualidade acima da média enquanto você nada faz na frente do seu netbook tosco. Por aí vai e chega uma hora que cansa enquanto você espera o batidão que não chega. “Kendo Riddim” chega a dar um alento com batidas mais vagarosas, mas não vai além  e esmorece. O álbum finaliza com aquele clima de música para filmes de samurais enquanto sua esposa coze alguma coisa na cozinha no meio do ambiente tenso, suspeita pela, talvez, desonra do marido.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Les Savy Fav – Rome (Written Upside Down)

Apesar das guitarras o álbum inicia nos lembrando que calculadoras de bolso foram e são bastante importantes para música pop. Nos defrontamos com uma pegada na cara com riffs em staccato um tanto rude na primeira faixa, que cede a uma melodia mais elevada no meio da canção combinadas com o som da calculadora de bolso. A segunda faixa começa com uma simplicidade campestre e limpa nas seis cordas de um lirismo comovente. Nem tudo que é indie reluz. A luz aqui é imanente. São canções e nada mais. É perceptível a escola de washington combinada com timbres sintéticos aliadas ao melhor da tradição da música popular do século dos séculos. A Les Savy Fav não traz nada de muito complicado a ser desvelado ou regurgitado. De um lado a tradição do uso de timbres sintéticos e de outras sonoridades que remetem ao momento pós hardcore estadunidense. Não tenho muito a dizer que não possa ser escutado. É apenas um álbum que peguei de uma lista de um site especializado nessa coisa inútil que chamamos de “música popular contemporânea”.