segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ouroboros



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Faze o que tu queres há de ser o todo da lei
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Amor é a Lei, Amor sob Vontade
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            Mais uma vez o sol retornou ao mesmo posicionamento do dia em que nasci. É a trigésima segunda vez. Seria impossível dizer o quanto mudou desde quando aconteceu pela primeira vez. Mas prefiro dizer que por volta da décima vez é que começou a minha vida como a reconheço agora. De lá pra cá minha relação com a música sempre foi profunda por motivos que já expus aqui em outras oportunidades. Mas desta vez aconteceu algo bem bacana: ganhei uma vitrolinha moderna da minha digníssima esposa. Comprar uma vitrola era um daqueles projetos que vinha adiando já fazia uns tempos. E aí eis que um dia chega um pacote do correio e quase não acreditei quando vi o que era. Passei até mal. Faz umas duas semanas que estou ouvindo só discos de vinil. Tenho uma coleção não muito numerosa, mas respeitável. O mais legal é poder ouvir coisas que fizeram parte da minha adolescência em meio a aquisições mais recentes. Tenho ouvido muito metal, de thrash a death, de King Diamond a Deep Purple.

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            Este aniversário também marca uma renovação do meu interesse pelo ocultismo num momento em que muitas coisas que não se encaixavam e agora começam a assumir uma nova posição de compreensão. Tem me dado um prazer enorme ler “A Cabala Mística” de Dion Fortune, uma famosa ocultista que faz parte da célebre Ordem da Aurora Dourada. Outro autor que tem feito parte das minhas leituras é o thelemita Lon Milo DuQuette que disseca a ritualística mágica em acordo com o Crowley e o recebimento do Livro da Lei. Para isso também estou contando com a ajuda de Israel Regardie, outro renomado ocultista que secretário de Crowley no início do século XX, seu livro sobre a Golden Down está aqui aguardando ansiosamente pela minha leitura. Pois antes estou lendo um livreto dele acerca de relaxamento, oração e cura.
            A mudança mais importante com relação à magia (magick) é a dimensão prática, pois já me relacionei com outras ordens ocultas que privilegiavam em demasia a dimensão contemplativa. Mas estou só no começo. Daqui pra frente tal abordagem de vida demandará uma boa parte de dedicação da minha vida cotidiana. Espero ingressar num futuro próximo em alguma ordem thelêmica e assim assumir um novo caminho espiritual junto a outros buscadores.

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            Além disso estou prestes a ter um filho, assumir um emprego definitivo como professor e mudar de cidade. Daqui um mês mais ou menos nasce o Tales. Confesso que ele virá muito amor e me dedicarei ao máximo para vê-lo crescer bem e com saúde independente da fortuna. Está quase tudo preparado para o seu nascimento. Só terei a exata dimensão do nascimento em minha vida quando ele estiver do lado de fora. Muita coisa irá mudar, pois além de ser responsável pela minha própria vida serei responsável também por uma nova vida frágil que necessitará de muitos cuidados. No meio disso tudo terei que cuidar também para que a mudança de cidade não seja traumática. Será uma mudança grande em todos os sentidos: mudança de ares, de coisas, de relacionamentos, mas vamos cuidar para que tudo saia da melhor forma possível. Não quero enlouquecer.


           

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Contradições...


 
            Ando demorando pra postar porque a cada dia que passa eu fico mais assustado. A barriga cresce. A minha e a dela. Eu to terminando meu curso de licenciatura e atarefado com o curso do governo pra dar aulas. Tinha falado sobre o violão, mas eu mudo de ideia todo dia. No final das contas acho que acabo ficando com o que me é mais imediato. Fico punhetando licks toscos de blues e rockabilly na guitarra e acho que não vou além disso. Estou condenado a ser um guitarrista tosco. Quanto ao xadrez eu ainda estou com os meus livrinhos e a coisa só vai pra frente depois do dia 25 de Outubro quando termino as minhas obrigações acadêmicas e de que dependem o meu futuro.
            Acho que o comentário da Laís é verdadeiro. Não adianta ficar fazendo planos. Não dá pra saber como vou reagir no cotidiano. Provavelmente vou agir com o Tales da mesma forma que lido com todas as outras coisas, pois não posso deixar de ser o que sou só pra ser um modelo de virtuosidade disso ou daquilo. Jamais vou ser um pai exemplar assim como o meu próprio pai não foi comigo. Das coisas realmente imediatas que uma criança precisa acho que realmente vou ter que mudar meus hábitos alimentares. Pelo menos com relação à cerveja eu dei uma boa diminuída. Tenho bebido pouco. Não que eu bebesse muito, mas o pouco que eu bebia diminuí pra bem menos. Não tenho medo de trocar fraldas e coisas do tipo. Tenho medo é da minha instabilidade de humor e da distração que às vezes deixam a Samira maluca. Eu tenho uma multiplicidade de interesse pelas coisas que me deixam realmente em estado de pura esquizofrenia. Não consigo dar conta de tudo. Não consigo me impor limites. Não consigo ser constante, perseverante, comedido e limitado.
            Mas eu tento... Sem vírgula, nem ponto de exclamação. Apaguei um amontoado de mp3 que eu tinha armazenado e que eu precisaria de mais de uma vida para ouvir tudo. Vou deixando o esqueleto. Só as coisas que eu realmente ouço com freqüência. Aliás, dei um tempo dos mp3 e como peguei meus CDs de metal e rock de volta, que estavam na casa do meu, tenho dado preferência a eles.
            Tenho um medo danado de mudar de cidade no ano que vem. Todo o processo me deixa borrado. Os poucos amigos e as coisas erradas que gostamos de fazer vou ter que abandonar. Será que vou encontrar amigos por lá? Lá é Pirassununga. A escola que escolhi fica dentro de um complexo militar. A cidade é militar. Com bases do exército e da aeronáutica. Eu não sou exatamente um sujeito de muitos amigos, faço muitas inimizades. Então não sei... Não mesmo...

           

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre Xadrez e Violão







Confesso que de uns tempos pra cá ando bem desanimado de tocar guitarra. Porque é muito chato tocar guitarra sozinho. A solução que eu achei foi voltar pro violão. Primeiro porque só com violão e partituras a coisa se basta, pelo menos em jazz e erudito. Segundo que minha primeira escola foi erudita e hoje em dia ouço com outros olhos. Gosto de tocar peças básicas do repertório de violão. Coisa, que aliás, estou retomando. Tenho um aparelhinho que me ajuda a exercitar tanto os dedos da mão direita como da mão esquerda. Outra coisa é que depois que você sabe que vai ter um filho inevitavelmente você acaba pensando seu futuro em conjunto com o dele. Uma das coisas que eu quero legar a ele é poder tocar violão e gostar de música. Obviamente que se ele não curtir e se interessar por alguma outra coisa eu vou apoiar, é lógico. Mas pelo menos quero ter alguma coisa para passar. Um outro aspecto além disso tudo é que eu toco mil vezes melhor com os dedos do que com palheta, que para mim, acaba sendo limitador. A solução que eu achei pra guitarra é usar dedeira e dedos pra tocar guitarra também, já tinha me dado bem antes, mas agora é definitivo.
Resolvi também tomar a iniciativa e aprender a jogar xadrez como gente grande. Comprei vários livros e pretendo dedicar uma boa parte de meu tempo a jogar xadrez nos próximos meses. A razão é que exercito justamente a razão, que junto com meus estudos de filosofia, formam um casamento perfeito. E, mais uma vez, penso no meu filho. Será muito bacana que ele conviva em casa desde cedo com tabuleiros de xadrez. Acho que é uma atividade saudável e que estimula o intelecto. Não tive esse tipo de oportunidade nem em casa nem nas escolas que freqüentei, portanto quero suprir essa lacuna e aprender xadrez para poder ensinar o Tales mais tarde.
No fim, unir xadrez com violão erudito e jazz creio estar traçando um caminho viável. Ano que vem mudo pra uma cidade em que não tenho amigos. Uma cidade pequena. As bandas por lá são quase todas de covers e nada de muito interessante. É difícil, eu sei. Mas prefiro construir uma vida em que eu tenha no que me apoiar na minha própria subjetividade do que procurar a aprovação alheia. É preferível construir uma vida interior quando nada mais nos resta. Alguém pode pensar que eu esteja fazendo um elogio da contemplação, mas não. Creio que ser possível que até mesmo o que tradicionalmente seja reconhecido como contemplatividade em filosofia pode ser desterritorializada na pós-modernidade. Estamos inventando o monaquismo pós-moderno por aqui. Casado, com filho e professor de filosofia.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Som e a Fúria





                                                           Count Five - A exaltação do Fuzz



Faz uns dias que não escrevo aqui... De tempos em tempos paro para deixar o corpo pensar e deixar o cérebro ocupado com coisas bem mais inúteis, mas que são, infelizmente, necessárias. Mas venho escrever por uma boa e apaixonada razão. Descobri que meu filhote vai ser um menino e já escolhemos o nome – Tales. Curiosamente de lá pra cá vem crescendo esse fervor que tenho pela vida. Esse fogo inextinguível que põe o mundo e as estrelas a girar por vezes nos pega nos braços e nos assopra uma labareda nos lembrando de que nada vale a vida se não nos lembrarmos eternamente do movimento perpétuo. O bacana disso tudo é que novamente despertou em mim aquele furor juvenil que eu achava tivesse ido embora e estivesse me afogando num mar de pessimismo death metal. Felizmente tudo retorna. Volto a ter aquela paixão pela minha guitarra. Pelas pegadas de blues, hardão70, rockabilly, punk rock e coisas que realmente fazem dar-me conta de que estou vivo. E que a vida mesmo sendo uma merda é boa assim mesmo. Venha o que vier, mas os Rolling Stones sempre estarão do meu lado. E sempre que ponho a me adentrar neste espírito percebo que quanto mais velho mais descomplicação queremos. Não nos darmos a complicações que a outros é simplicidade é um bom caminho. Pelo menos para mim. Segue portanto o sonho de montar uma banda de rock garageiro fuzz gasolina... não vou desistir... só quero legar uma coisa ao meu filho que virá... o furor inextinguível pela vida...

Obs.: Detesto gente que se propõe a filosofar contemplativamente. E pior, mal sabem o que é filosofar. Na tentativa de evidenciar a profundidade de seus pensamentos é na própria merda que remexem.

domingo, 4 de setembro de 2011


Engraçado... Me deparei com um blog hoje em que um sujeito se propõe a discutir música, filosofia e guitarra. Três das coisas que fizeram parte da minha vida e ainda fazem. Mas ao contrário de alguns blogueiros, e justamente o blogueiro que escreve o referido acima, não faço do meu blog um receituário moral pra ninguém. Pior: confundir filosofia com prescrições morais, pois filosofar é questionar, e questionar valores morais absolutos. E há várias maneiras de questionar. Uma delas e é a que eu faço neste blog é me expor ao ridículo. Prefiro partir do espanto que é ser você mesmo. Eu não tive bandas por muito tempo, sou formado em violão erudito, mas nunca fui um violonista, nem cheguei mesmo a cursar faculdade de música. Fiz a cagada de escrever uma dissertação sobre o Xenakis, que não serve pra nada, nem para mim nem para os outros. Nunca andei com turmas de pessoas que gostam das mesmas coisas pelo fato de que eu mesmo não sou fiel a nada, música pra mim é antes de tudo uma experiência individual, como experiência social é secundário. Veja bem! Não estou emitindo um juízo – “música enquanto experiência social não é válida” – não é válida pra mim! Constatar isso já é meio caminho andado para uma percepção de si que confunde humildade com saber rir e desvalorizar a si mesmo.
            Num mundo que supervaloriza o indivíduo que tem auto-estima, que recicla, que acredita em sustentabilidade, é vegetariano, tem uma família feliz, acredita na “boa música”, enfim... uma coleção de patacoadas! Prefiro seguir o caminho do “espíritodeporquismo”. Outro dia um cara, que também tem um blog sobre música, disse que o novo álbum do Dream Theater era muito bom, e eu prontamente emiti a opinião de que “o mundo seria bem melhor sem uma banda dessas”. O cara respondeu ironicamente agradecendo o fato de eu “enriquecer” o debate. Bom... estou pouco preocupado com “riqueza”, prefiro a “pobreza”. Se for para entrar num debate vou com o intento de aflorar preconceitos, más opiniões, o pouco e nada do que sabemos sobre qualquer coisa, inclusive sobre música. Justamente porque música está naquele lugar em que é, do ponto de vista evolutivo, um luxo. Mas há aqueles que preferem a música como “reminiscência” platônica.
Por quê? Não me sinto na posição de ser exemplo pra ninguém. E o próprio fato de dar exemplo é algo como apoiar-se em si mesmo como modelo virtuoso. Partindo desse “virtuosismo”, que nada tem a ver com ser filosófico ou não, não me sinto na posição de impor como “deve” ser uma discussão sobre música.