sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre Xadrez e Violão







Confesso que de uns tempos pra cá ando bem desanimado de tocar guitarra. Porque é muito chato tocar guitarra sozinho. A solução que eu achei foi voltar pro violão. Primeiro porque só com violão e partituras a coisa se basta, pelo menos em jazz e erudito. Segundo que minha primeira escola foi erudita e hoje em dia ouço com outros olhos. Gosto de tocar peças básicas do repertório de violão. Coisa, que aliás, estou retomando. Tenho um aparelhinho que me ajuda a exercitar tanto os dedos da mão direita como da mão esquerda. Outra coisa é que depois que você sabe que vai ter um filho inevitavelmente você acaba pensando seu futuro em conjunto com o dele. Uma das coisas que eu quero legar a ele é poder tocar violão e gostar de música. Obviamente que se ele não curtir e se interessar por alguma outra coisa eu vou apoiar, é lógico. Mas pelo menos quero ter alguma coisa para passar. Um outro aspecto além disso tudo é que eu toco mil vezes melhor com os dedos do que com palheta, que para mim, acaba sendo limitador. A solução que eu achei pra guitarra é usar dedeira e dedos pra tocar guitarra também, já tinha me dado bem antes, mas agora é definitivo.
Resolvi também tomar a iniciativa e aprender a jogar xadrez como gente grande. Comprei vários livros e pretendo dedicar uma boa parte de meu tempo a jogar xadrez nos próximos meses. A razão é que exercito justamente a razão, que junto com meus estudos de filosofia, formam um casamento perfeito. E, mais uma vez, penso no meu filho. Será muito bacana que ele conviva em casa desde cedo com tabuleiros de xadrez. Acho que é uma atividade saudável e que estimula o intelecto. Não tive esse tipo de oportunidade nem em casa nem nas escolas que freqüentei, portanto quero suprir essa lacuna e aprender xadrez para poder ensinar o Tales mais tarde.
No fim, unir xadrez com violão erudito e jazz creio estar traçando um caminho viável. Ano que vem mudo pra uma cidade em que não tenho amigos. Uma cidade pequena. As bandas por lá são quase todas de covers e nada de muito interessante. É difícil, eu sei. Mas prefiro construir uma vida em que eu tenha no que me apoiar na minha própria subjetividade do que procurar a aprovação alheia. É preferível construir uma vida interior quando nada mais nos resta. Alguém pode pensar que eu esteja fazendo um elogio da contemplação, mas não. Creio que ser possível que até mesmo o que tradicionalmente seja reconhecido como contemplatividade em filosofia pode ser desterritorializada na pós-modernidade. Estamos inventando o monaquismo pós-moderno por aqui. Casado, com filho e professor de filosofia.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Som e a Fúria





                                                           Count Five - A exaltação do Fuzz



Faz uns dias que não escrevo aqui... De tempos em tempos paro para deixar o corpo pensar e deixar o cérebro ocupado com coisas bem mais inúteis, mas que são, infelizmente, necessárias. Mas venho escrever por uma boa e apaixonada razão. Descobri que meu filhote vai ser um menino e já escolhemos o nome – Tales. Curiosamente de lá pra cá vem crescendo esse fervor que tenho pela vida. Esse fogo inextinguível que põe o mundo e as estrelas a girar por vezes nos pega nos braços e nos assopra uma labareda nos lembrando de que nada vale a vida se não nos lembrarmos eternamente do movimento perpétuo. O bacana disso tudo é que novamente despertou em mim aquele furor juvenil que eu achava tivesse ido embora e estivesse me afogando num mar de pessimismo death metal. Felizmente tudo retorna. Volto a ter aquela paixão pela minha guitarra. Pelas pegadas de blues, hardão70, rockabilly, punk rock e coisas que realmente fazem dar-me conta de que estou vivo. E que a vida mesmo sendo uma merda é boa assim mesmo. Venha o que vier, mas os Rolling Stones sempre estarão do meu lado. E sempre que ponho a me adentrar neste espírito percebo que quanto mais velho mais descomplicação queremos. Não nos darmos a complicações que a outros é simplicidade é um bom caminho. Pelo menos para mim. Segue portanto o sonho de montar uma banda de rock garageiro fuzz gasolina... não vou desistir... só quero legar uma coisa ao meu filho que virá... o furor inextinguível pela vida...

Obs.: Detesto gente que se propõe a filosofar contemplativamente. E pior, mal sabem o que é filosofar. Na tentativa de evidenciar a profundidade de seus pensamentos é na própria merda que remexem.

domingo, 4 de setembro de 2011


Engraçado... Me deparei com um blog hoje em que um sujeito se propõe a discutir música, filosofia e guitarra. Três das coisas que fizeram parte da minha vida e ainda fazem. Mas ao contrário de alguns blogueiros, e justamente o blogueiro que escreve o referido acima, não faço do meu blog um receituário moral pra ninguém. Pior: confundir filosofia com prescrições morais, pois filosofar é questionar, e questionar valores morais absolutos. E há várias maneiras de questionar. Uma delas e é a que eu faço neste blog é me expor ao ridículo. Prefiro partir do espanto que é ser você mesmo. Eu não tive bandas por muito tempo, sou formado em violão erudito, mas nunca fui um violonista, nem cheguei mesmo a cursar faculdade de música. Fiz a cagada de escrever uma dissertação sobre o Xenakis, que não serve pra nada, nem para mim nem para os outros. Nunca andei com turmas de pessoas que gostam das mesmas coisas pelo fato de que eu mesmo não sou fiel a nada, música pra mim é antes de tudo uma experiência individual, como experiência social é secundário. Veja bem! Não estou emitindo um juízo – “música enquanto experiência social não é válida” – não é válida pra mim! Constatar isso já é meio caminho andado para uma percepção de si que confunde humildade com saber rir e desvalorizar a si mesmo.
            Num mundo que supervaloriza o indivíduo que tem auto-estima, que recicla, que acredita em sustentabilidade, é vegetariano, tem uma família feliz, acredita na “boa música”, enfim... uma coleção de patacoadas! Prefiro seguir o caminho do “espíritodeporquismo”. Outro dia um cara, que também tem um blog sobre música, disse que o novo álbum do Dream Theater era muito bom, e eu prontamente emiti a opinião de que “o mundo seria bem melhor sem uma banda dessas”. O cara respondeu ironicamente agradecendo o fato de eu “enriquecer” o debate. Bom... estou pouco preocupado com “riqueza”, prefiro a “pobreza”. Se for para entrar num debate vou com o intento de aflorar preconceitos, más opiniões, o pouco e nada do que sabemos sobre qualquer coisa, inclusive sobre música. Justamente porque música está naquele lugar em que é, do ponto de vista evolutivo, um luxo. Mas há aqueles que preferem a música como “reminiscência” platônica.
Por quê? Não me sinto na posição de ser exemplo pra ninguém. E o próprio fato de dar exemplo é algo como apoiar-se em si mesmo como modelo virtuoso. Partindo desse “virtuosismo”, que nada tem a ver com ser filosófico ou não, não me sinto na posição de impor como “deve” ser uma discussão sobre música.