Há cerca de um mês eu achei que pelo fato de vir a ser pai deveria diminuir o ritmo. Enfeitar o cérebro com coisas mais sensíveis. Esta foi uma das razões que me levou a uma busca desenfreada a querer retomar uma certa sensibilidade indie e pop e tentar me inteirar do que vinha acontecendo, mas percebi que não deu certo. Aliás, que raízes?! Maldito engano.
Pesquei as listas do site pitchfork.com e fui baixando as listas... Parei no meio de 2004. Havia me lançado numa tarefa hercúlea de tentar ouvir tudo aqui em busca de alguma obra perfeita da música popular contemporânea. Desisti. Apaguei tudo. Uma das coisas que tinha me motivado era o fato da nossa amiga Deia ter vindo aqui e falado mil maravilhas dos shows do Superchunk no Brasil.
Lá pelos meus vinte e poucos anos... depois dos 23... Eu fui inevitavelmente fisgado pelas sonoridades mais pesadas. De lá para cá venho ouvindo muito heavy metal. Tenho preferência principalmente pelas coisas mais brutais... thrash, death e black... Tenho respeito, mas não reverência pelo metal tradicional... Gosto principalmente dos sons setentistas, mas já falei disso aqui. Paremos com a redundância.
No dia que fiquei de saco cheio, que vi que não estava curtindo nem um pouco ouvir aquelas patacoadas indie eu botei no meu player um álbum que marcou minha adolescência – Darkness Descends – do Dark Angel. Que disco! Thrash escuro e macilento. Uma obra daquelas.
Terminei de ler estes dias “O Mundo de Sofia” de Jostein Gaarder. Eu era muito reticente quanto a ler um livro. Um “Romance da História da Filosofia” já desperta arrepios na espinha. Ou é romance, ou é história da filosofia. Como vou passar a dar aulas de filosofia no estado e é um livro aclamado, um Best-seller, achei que seria uma leitura interessante, poderia encontrar ali uma sugestão de leitura para alunos que estão se iniciando no ensino de filosofia. O livro é uma merda.
Enquanto romance não se sustenta. A narrativa que serve como muleta, pano de fundo, para o desenrolar da história da filosofia é lamentável de tão ruim. A não ser que haja adolescentes extremamente ingênuos ou que vivem, de fato, num paraíso idílico, que poderiam aproveitar o livro, seria justificável. Mas estamos falando da Noruega, sim, este país que esteve recentemente nos noticiários pelos fatos terroristas. País de onde veio um álbum maravilhoso concebida por uma mente perversa – “Filosofem” – de Burzum. Certamente Jostein Gaarder desconhece os jovens que fizeram parte do círculo interno do Black Metal Norueguês, que queimaram igrejas históricas em nome de um passado nórdico e pagão e se envolveram em assassinatos neuróticos. Vale Lembrar, a mesma terra de quem começou tudo – Bathory. Há muito mais filosofia na sonoridade de Mayhem do que sonha o patético escritor.
Para compensar comecei a ler a “A Brasileira de Prazins – Cenas do MInho” do oitocentista Camilo Castelo Branco que podemos ler nos seguintes trechos abaixo sua afinidade com a crítica mordaz ao cristianismo dos jovens perturbados noruegueses, guardadas as devidas proporções.
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“A Fé, o bordão com que as velhas e os velhos caminham resignados e contentes para os mistérios da eternidade”
“A retórica é a arte de falar bem; mas os vícios são a arte de viver bem e alegremente. Assim se pensa, embora não se diga.”
Camilo Castelo Branco
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